quinta-feira, 27 de maio de 2010

" As vossas vozes abrem os nossos corações"

Não sei que escreveu, posso imaginar o contexto porque também o vivo. Ontem esta frase, num determinado lugar, bateu no meu coração. Quanto do nosso tempo é gasto a destruir o que se apresenta perante nós? Quando falo nisto, não falo necessariamente de grandes feitos e muito menos com falsos moralismos. Falo de vidas  e de pessoas, e de pais e filhos. Falo do trabalho de alguém. Quantas e quantas vezes o nosso pensamento voa para o mal e não para o bem? O meu voa. Algumas vezes. E ontem alguém, seja ele ou ela quem fôr, escreveu numa parede colorida que a minha voz abre corações e modifica-os. A minha voz permite-me dizer a alguém o quanto ele é precioso, o quanto o seu esforço é uma recompensa futura. Há quem não ouça. Há quem não fale. Há quem não veja. Mas o amor, a ternura e a excelência da amizade sentem-se. Todos sentem. E todos a podem transmitir.

sábado, 15 de maio de 2010

E foi assim...

Foi há 1 ano atrás que mudei. Mudar não significa uma alteração para pior, mas significa obrigatoriamente uma diferença. Desde que engravidei da Inês passei a experimentar sentimentos que nunca tinha experimentado antes. O principal foi achar que não iria conseguir amar duas crinaças da mesma maneira, que iria passar a dar mais atenção a uma do que a outra, ou a preocupar-me com as duas de maneira diferente, porque os corações não se dividem. Foi nesta altura que chorei mais do que em qualquer momento da minha vida, porque achava que me estava a tirar ao Rodrigo. Isso representava uma injustiça muito grande. Hoje sei que o amor efectivamente não se divide. Sei também que não se gosta mais de um filho do que se gosta do outro. Dava a minha vida com a mesma intensidade por qualquer um deles. Sei que cada um tem o seu lugar e ser mãe é ser completa na tarefa dura de amar incondicionalmente o presente e o futuro que não aconteceu. Sei que os dois me preenchem como se não houvesse espaço para mais ninguém. Às vezes nem para mim.
Percebi que tudo ía mesmo mudar quando a Inês nasceu às 35 semanas e um dia. Quando acordei muito mais cansada do que o habitual. Tomei banho e comi. Quando disse aos meus sogros, que pintavam a minha casa desalmadamente: " - Vou deitar-me na cama um bocadinho para descansar!". Eram 10 horas e tinha dormido a noite inteira. Percebi que a Inês iria mudar mudar a minha vida quando a bolsa das águas se rompeu e eu pensei alto: " - Oh filha, era só mais um bocadinho!". Depois de verificar tudo como manda o protocolo: a cor, abundância, a ausência de cheiro das águas o resto foi tudo muito controlado. O stress desaperecu instantaneamente. A adrenalina dominou e liderei tudo, até mesmo no hospital onde eu não queria que a Maria Inês nascesse. Mas não tive tempo para riscos.
Era tão minúscula a minha filha e tão feia:). Mas era tão nossa e tão viva. Não sabia mamar, mas chuchou no dedo minutos depois de nascer. Gemia imenso, porque tinha frio. O resto são histórias que ficam para recordar. Hoje é uma fofura. Ama a vida. Tem pressa para tudo. Acorda a sorrir. Tem imensos dentes. Come tudo o que consegue apanhar. Faz birras e finge que chora. Ama o Rodrigo e cresce cada momento que se aproxima dele. Dorme a noite toda. Faz sestas. É muito teimosa e persistente. O Panda deverá ser num futuro próximo, o meu genro. Detesta vestir-se, mas sabe quando está linda de morrer. Dorme agarrada a uma almfoda que era minha e que é sem dúvida maior que ela. Chucha no dedo. Dança e bate palmas. Adora crianças. Sabe quando eu me vou embora embora sem eu sequer dizer: "-Adeus!". Um ano, princesa. Tu tens um ano e mudaste a minha vida porque quiseste aparecer nela. Porque já me levaste ao extremo da minha condição física quando literalmente querias respirar o meu ar, quando adormecias com o teu nariz colado ao meu. Amo-te canica.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Há um ano atrás

por esta altura eu sei muito bem o que é que estava a fazer. A resposta é: nada. Não fazia rigorosamente nada. Os meus dias resumiam-se entre escolher dormir no sofá ou na cama. Há um ano atrás por esta altura eu pesava mais 10 Kgs. Tinha varizes horripilantes até em sitios assim... pronto. Usava uma cinta e meias de descanso que passei a amar, tal não era a necessidade. Tinha um pequeno poltergeist na minha barriga que esfregava  a cara e parecia que os braços queria sair para fora a qualquer custo. Há um ano atrás a minha casa estava a ser pintada e eu e o André dormíamos no quarto do Rodrigo, com ele. E foi uma galhofa. Há um ano atrás, exactamente neste dia, eu senti a necessidade de preparar o ninho. E preparei, sem dizer a ninguém o porquê. Eu não acreditava nessas coisas dos "antigos". Obriguei o André a fazer uma lista do que me faltava para a Maria Inês. Não uma lista qualquer. Uma lista com cores e quadradrinhos onde se podiam pôr cruzes naquilo que ia ficando tratado. Uma lista onde descrevi em pormenor onde estavam todas as coisas possiveis e imaginárias. Pedi-lhe para imprimir e para deixar sempre com ele. Ele não o fez. Há um ano atrás revi a mala do hospital mil vezes e coloquei a primeira roupa num envelope feito pela avó. A roupa mais pequenina que tinha. Há um ano atrás chorava imenso porque não podia pegar no Rodrigo ou dar-lhe de comer. Há um ano atrás contava os minutos para que durasse tudo mais um pouco e pedia encarecidamente à minha princesa para não ter pressa. Há um ano atrás devorava livros e séries e ... não, não comia muito, porque a Maria Inês adorava quando eu comia e eu não conseguia suportar aquela luta na minha barriga ,como se eu não contasse para nada. Como eu a amava e amo. Como eu a queria e quero. Como ela veio mudar a minha vida desde o primeiro dia da sua existência. Eu sei qual foi este dia:).
Dia 15 de Maio de 2010, eu conto o resto.